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Polo Aquático: Entrevista João Vieira

No Fluvial há 23 anos, o capitão da equipa sénior masculina de Polo Aquático recorda os velhos tempos e antevê um futuro risonho para a equipa, mas não assume uma candidatura ao título. Deixa a promessa de levar  o Fluvial o mais longe possível.

Há quanto tempo estás no Fluvial?

Há 23 anos comecei a aprender a nadar no Fluvial. Na altura tinha sete anos.

Como te iniciaste no Polo Aquático?

Não era um nadador muito talentoso e não me portava muito bem quando era miúdo então o Rui Moreira, que na altura foi uma das pessoas que me ensinou a nadar, e também era treinador, perguntou se queria experimentar o Polo e por cá fiquei.

Quem foi o teu primeiro treinador?

O meu primeiro treinador foi o Miguel Pires que, naquele tempo, era ajudado pelo Fernando Leite. Depois disso estive muitos anos com o Rui Moreira e, mais recentemente, com o João Pedro [Santos].

Como era jogar na mítica piscina antiga do Fluvial? Como recordas esses tempos?

Tenho grandes recordações da piscina antiga. Quando entrei para o Polo a piscina ainda tinha pé e os nossos jogos oficiais eram jogados fora de casa. A partir dos meus 14/15 anos começamos a ter os jogos no Fluvial e era excelente. A bancada não era muito grande, facilmente ficava cheia. Recordo-me que quando me estreei nos seniores o meu pai tinha que ir uma hora mais cedo para ter lugar sentado. Para além da bancada ser pequena ia muita gente ver os jogos.

Como foi a transição para esta piscina?

Foi um pouco difícil. Apesar de termos piores condições gostava muito daquela piscina. Lembro-me que houve gente do Polo que fez uma espécie de despedida da piscina e eu nem quis participar. No início estranhei um pouco, mas adaptei-me e agora gosto imenso e reconheço que temos muito melhores condições.

Até ao momento quais os treinadores que mais te marcaram?

Claramente dois. O Rui Moreira porque quando era mais novo, para além de treinador, foi como um segundo pai para mim, influenciou-me muito a nível desportivo e pessoal, ensinou-me a jogar. E também o João Pedro por ter apostado em mim para jogar nos seniores e por sempre ter acreditado em mim. Também me ensinou muito e acho que é um treinador com quem vamos poder contar durante muitos anos.

E jogadores?

Uma pessoa que sempre foi uma grande referência, é um ex-jogador, do Fluvial, o Rui Silva, que sempre foi um jogador extremamente talentoso e, no seu tempo, era claramente acima da média. Da minha geração destaco dois. Os dois “Tiagos”. O Tiago Santos e o Tiago Ramos, quer pela amizade que tenho com eles, quer pelo grande talento de ambos. Gostava também de destacar uma pessoa que me influenciou imenso quando representei o Salgueiros, que foi o Paulo Russo, que foi um excelente colega de equipa e uma pessoa que me ensinou muito.

Qual o melhor momento que viveste até agora no Fluvial?

O melhor momento que vivi no Fluvial terá sido a vitória contra o Salgueiros, o ano passado, na meia-final do play-off. Foi uma vitória que nos fez acreditar que é possível. Tenho muita pena que o Salgueiros tenha acabado até porque tenho a certeza que íamos conseguir ganhar-lhes, mais ano menos ano. Aquela vitória foi fundamental porque nos fez acreditar em nós.

Que balanço fazes dessa época?

Foi uma época muito positiva, de transição, em que os jovens jogadores, com enorme talento, que nós temos, se afirmaram nos seniores. Foi uma época de muito trabalho e sacrifício e penso que na globalidade correu bem. Podíamos ter fechado com chave de ouro… Acredito que se tivéssemos ido à final teríamos ganho o campeonato. Mas as coisas têm de ser feitas passo a passo e acho que demos os passos certos na época passada e vamos ver como corre o futuro.

Quais os objectivos da equipa para este ano?

 Não queria assumir uma candidatura oficial a ser campeão. Acho que temos de encarar as coisas como elas são. Temos responsabilidade de levar o Fluvial o mais longe possível porque a história do clube assim nos obriga. Acredito que temos recursos e qualidade individual e coletiva para podermos dar uma alegria às pessoas que gostam do clube, e que são muitas. Mas acho que não nos devemos comprometer com vitórias. Devemos é trabalhar para as conseguir e acho que é o que temos feito.

 E a presente época, como tem corrido?

Tem corrido bem, com alguns contratempos normais de uma modalidade que ainda está a caminhar para o semi-profissionalismo. As dificuldades são muitas e temos tentado contrariá-las. Exige-se muito espírito de sacrifício e penso que temos conseguido contornar as dificuldades. Faltam 3 ou 4 meses até a época terminar e penso que teremos de nos focar e continuar a trabalhar.

 Que espírito se vive actualmente na equipa sénior masculina?

Temos alguns reforços, ex-jogadores do Salgueiros, que nos vieram ajudar imenso. O Marco Carvalho adaptou-se muito bem à equipa, já conhecia praticamente toda a gente e também já tinha uma história pessoal com o clube. Penso que o Jorge Lopes e o Pedro Maria são duas pessoas que nos podem ajudar muito porque têm um talento e uma qualidade muito acima da média em Portugal. Acredito até que estamos na presença do melhor jogador português da atualidade, que será o Jorge Lopes, na minha opinião. Portanto vieram-nos ajudar e estão-se a adaptar. O resto da equipa tem-se mantido unida, tem sabido receber as pessoas. Os jogadores que estão fora do país vão regressar, como o Sérgio [Marques], o que também é uma boa notícia. Acho que todos juntos temos recursos para fazer algo importante.

Na tua opinião qual é a “receita” para o sucesso de uma equipa?

Há dois pontos fundamentais. O primeiro obviamente é o trabalho e o espírito de compromisso e de sacrifício com a equipa. O segundo ponto tem a ver com o respeito por si próprio e pela equipa e o sabermos o papel que cada um tem na equipa.

E até quando pretendes jogar?

Ainda não fixei uma data, mas acredito que enquanto me sentir bem física e mentalmente e enquanto sentir que consigo acrescentar alguma coisa ao clube, enquanto continuar a ter prazer a treinar, mesmo naqueles dias de Inverno, chuvosos e frios, em que muita gente gosta de ficar em casa. Enquanto sentir o apoio dos colegas e do treinador, irei continuar. Não tenho uma meta, até porque infelizmente temos de conciliar o Polo com a actividade profissional e os desafios que poderão vir da actividade profissional poderão impedir-me de continuar a jogar. Mas a minha vontade de continuar é grande.

Tens algum “ritual” que costumes cumprir antes dos jogos?

 Apesar de já jogar há 20 anos continuo a ficar extramente nervoso antes dos jogos, como se fosse o primeiro. Tento disfarçar e acho que tenho conseguido. Para mim até é mais difícil a semana anterior aos jogos, afeta-me imenso, quando é um jogo importante, mesmo o meu dia-a-dia, porque fico muito focado e acaba por afetar o meu raciocínio diário. No dia do jogo não tenho grandes rituais, só estar concentrado e dar conselhos aos mais novos.

Como definirias o João Vieira, jogador de Polo Aquático?

O João Vieira é um jogador esforçado que trabalha para o coletivo, que tenta cumprir as missões que o treinador lhe pede. Acho que tenho algum jeito para isto mas sou muito mais trabalho do que talento. Trabalho para as pessoas que têm realmente instinto e talento para decidir jogos poderem estar lá para resolver. Mas o futuro não sou eu, o futuro do Fluvial está perfeitamente garantido porque temos jogadores com talento como o Tiago Paraty, o João Leite e o Nuno Marques. E também os meninos, o André Leite, o Lino e o Zé Brandão, que farão um excelente papel para me substituir.

Que conselhos darias aos vários jovens da formação do Polo Aquático do Fluvial?

O melhor conselho que posso dar é que nunca desistam, que se mantenham focados na modalidade e nunca percam as oportunidades que esta modalidade lhes pode trazer. Tenho um desgosto de não ter ido às Universíadas por uma questão meramente pessoal, que não tinha nada a ver com o desporto, e estou hoje muito arrependido disso. Tenho um desgosto de ter abdicado de ir a estágios da seleção nacional sénior e por isso ter deixado de ser opção. Hoje arrependo-me muito disso. Portanto não percam as oportunidades que vão tendo, aproveitem-nas ao máximo e desfrutem do Polo.

FICHA TÉCNICA

Nome: João Pedro Vieira

Idade: 30 anos

Posição: Central/Lateral Direito

No Fluvial desde: 1990


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